Como banalisamos a vida dos vivos!!!
E por que fazemos isso? ...
Em tudo; fotos, objetos, diálogos, falas, entradas, saídas, chegadas e partidas,... dia a dia. Expressões que fogem, tristezas que se perdem em ocupações sem substância. Alegrias adiadas em oportunidades de registros verdadeiros. Das sensações, do prazer, do riso espontâneo... de tudo que consiste enfim os dias em que encontramos com a pessoa, com as pessoas.
Nos distraimos com qualquer coisa e perdemos o momento, os flagrantes que podem compor e somar qualificando as relações.
Somos interessados em nada, ... somos esses caminhos enlouquecidos do cérebro que tudo capta, da mente dispersa, da alma distraida, da memória divorciada e um espírito que dá conta. Quando a pessoa morre o cérebro aciona o filme que conseguimos produzir em vida; em dias, anos, décadas com ela... E tudo se mistura, ... saudade, remorso, desejo inútil de que o tempo volte para se fazer diferente ainda que tenha feito tudo o que lhe foi possível e permitido.
Lamenta-se a falta de troca, de reciprocidade, ... o interesse que você não conseguiu despertar no outro. Os olhos que nunca se encontraram, aquele sentimento que precisa que seja sentido por ambos, as conquistas que precisam que sejam a dois.
O medo do amor e da vida é tamanho que só temos esse acesso quando a morte chega nos levando todas as possibilidades.
Tira de nós o direito e o dever. Os prazeres e os dizeres... as declarações em silêncios doídos demais.
Afastamo-nos!!! E afastamos essa chance de encontro e de construção de um tempo bom. Tiramos de quem está do lado qualquer espaço de conquista em abraços, beijos, manifestação de carinho, cuidado e aconchego. Delicadezas explicitas que parecem causar repulsa.
A nossa burrice afetiva é algo insano. Quem nos quer não conseguimos nos interessar. Quem nos rejeita, nos ostiliza ficamos embevecidos pela falta de estima, pela menos valia nutrida desde criança, quem sabe? ...
E aí, perdemos o bonde da vida. Perdemos as chances de acordos de vida rica em afetividade. Ocupados demais com a sobrevivência financeira, com a compra de coisas que jamais nos preencherão e suprirão as necessidades que realmente nos alegram e nos tornam pessoas criativas, ricas, afortunadas...
E essa porra se perpetua. E esse atavismo doente, adoecedor nos conduz a morte deselegante e indigna da ausência do AMOR, da carência e da inanição causada pela nossa imaturidade, pelo medo, ...
Lamentável, ... muito triste essa conclusão!!!
Do berço ao caixão, do nascimento à morte, precisamos fazer diferente, construir em torno da nossa existência um patrimônio afetivo que é nosso, pessoal, intimo, particular. Nem sempre correspondido mas que corresponde ao que viemos fazer aqui...
É preciso que hajam ajustes, que se negocie em temperamentos que divergem, mas é preciso a consciência de que ali tem o bendito AMOR, o sentimento que possibilita qualquer coisa boa, bonita, feliz, alegre que precisa ser construida pelas duas pessoas. Tudo é impactante na hora da despedida foda, do pra sempre e do nunca mais... que a gente não acredita até por ser real...
Vou morrer de saudade...
Livia Leão
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